Fanatismo

A vida de Jorge não é fácil, não. Pega cedo no batente, trabalho muito o dia inteiro e no fim do mês ganha um misero salário mínimo. Mas ultimamente está difícil de seus colegas o virem triste, pois todos os dias ele apenas sabe dizer “O Coringão vai ser Campeão da Libertadores, vocês vão ver.”É segunda feira e, entre um carro e outro que Jorge precisa descarregar e carregar, para não atrasar nas entregas da empresa, ele já pensa no domingo. Vai ter jogo do Corinthians e, é claro ele vai estar lá para dar aquela força ao Timão. “ainda mais agora com novo técnico Carpeggiane, vai precisar de um orientador como eu ali próximo aos jogadores...”, diz como se fosse ele o atual assistente técnico do técnico uruguaio. Os amigos de Jorge já nem dão ouvidos para ele, pois sabem que quando o assunto é Corinthians o cara já se transforma.Os dias vão passando e logo chega sábado, Jorge já começa a sua concentração, primeiro entra no site da globo e vê como está a formação do time adversário e a tática que os mesmos poderão usar, mas como sempre confiante ele diz que seu time vai vencer. Resolve dormir cedo, pois amanhã é o grande dia e ele precisa estar disposto a atravessar a cidade de São Paulo todinha para chegar até o palco do espetáculo, o estádio do Pacaembu.Domingo ele acorda com as galinhas, e mesmo antes de passar na padaria para tomar seu café da manhã ele corre para a banca de jornal e lê as ultimas noticias da partida, chegando em casa, volta a dar uma olhadinha no site da globo e mesmo sua mulher gritando para ele ir almoçar, ele nem da ouvidos e sai de casa as 11 horas, é cedo, mas ele precisa sair o quanto antes, porque ele mora muito longe do Pacaembu e são 3 horas até chegar lá. Sua preocupação começa quando o ônibus demora a passar, já são mais de 30 minutos no ponto e nada. Depois de olhar no relógio milhares de vezes, enfim a condução chega e ele entra. Ou melhor quase entra porque até de domingo o danado Já vem lotado.Balança pra cá, balança pra lá. Jorge já todo suado. Aquela calor de esquentar o quengo, aquele barulho insuportável das pessoas falando. Após 2 horas de viagem desce na Avenida Radial Leste e logo, embarca no metro Belém com destino a estação Marechal Deodoro. Aproximadamente 1 hora depois, Jorge, enfim, chega a Avenida Pacaembu e já solta aquele sorriso de criança, quando vê toda a massa corinthiana gritando “Corinthiaaans....Corinthians minha vida....Corinthiaaans minha história....Corinthiaaaans meu amor...ôôô!!!Jorge vai se aproximando e seu coração bate cada vez mais rápido. Nem o empurra – empurra na fila para a compra do ingresso e nem o preço dele o desanimam. Sua respiração é ofegante, suas pupilas já estão dilatadas. Entra no querido Paulo Machado de Carvalho, companheiro de tantas alegrias e não contem a emoção: vê um imenso mar alvinergo e chora. Essa galera é como seus irmãos, seus pais, seus filhos.A garganta de Jorge quase explode quando os jogadores entram em campo. Tudo encantam Jorge naquele momento desde seu time do coração ao juiz da partida. Ele abri um grande sorriso, com seus dentes brancos que combinam com a cor da nação fiel.Durante essa hora e meia de partida, Jorge será o mais importante torcedor. Com seus aplausos, conduzirá a equipe a mais uma vitória, esquecendo de todos os problemas pessoais e profissionais de sua vida sofrida, inclusive o caminho longo que terá de enfrentar para voltar pra casa.Nestes 90 minutos, Jorge estará diante do maior amor de sua vida, o time do Coringão.